24/11/2025
Jean Paul Prates envia carta à presidência nacional pedindo desfiliação do PT
O ex-senador e ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, está se desfiliando do PT, como já havia anunciado.
Nesta segunda-feira (24) ele postou nas redes sociais, a carta que encaminhou ao presidente nacional da legenda, Edinho Silva.
Confira:
Ao Companheiro Edinho Silva
Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores
Brasília, 24 de novembro de 2025
Prezado Presidente,
Escrevo-lhe com o respeito e a fraternidade de sempre para, com pesar e profunda reflexão, comunicar minha decisão de solicitar a desfiliação do Partido dos Trabalhadores, legenda à qual me filiei em 2013 com entusiasmo, lealdade e total disposição para contribuir com o fortalecimento de seu projeto histórico e de suas lutas em defesa do povo brasileiro.
Essa decisão, embora amadurecida ao longo dos últimos anos, foi consolidada após diálogo direto e respeitoso com a Governadora Fátima Bezerra, em que reafirmei minha disposição de integrar a chapa majoritária governista ao Senado Federal em 2026, em posição ainda a definir.
Registro aqui, com emoção e gratidão sincera, minha eterna reverência ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à Governadora Fátima Bezerra, por terem me confiado as duas missões mais importantes e honrosas da minha vida pública: representar o Rio Grande do Norte no Senado Federal e presidir a Petrobras, símbolo maior da soberania energética nacional.
Foram 12 anos de dedicação ao Partido. Estive na linha de frente em momentos decisivos: nas campanhas de 2014 e 2018; na candidatura à Prefeitura de Natal em 2020, assumida em plena pandemia; e, sobretudo, como Senador da República durante o governo Bolsonaro, exercendo com firmeza, equilíbrio e responsabilidade institucional a liderança da minoria (oposição) no Senado.
Combati o negacionismo sanitário e a agenda de desmonte do Estado.
Defendi com convicção as estatais brasileiras, em especial a Petrobras, e me opus à entrega de ativos estratégicos nacionais.
Exerci com firmeza e equilíbrio a liderança da oposição no Senado Federal e líder do PT no Congresso Nacional durante o governo Bolsonaro — em defesa da democracia, do patrimônio público e das empresas estatais, além de ter presidido frentes parlamentares e comissões de grande relevância para a agenda estratégica do país.
No exercício do mandato parlamentar, fui relator e autor de marcos estruturantes como a Lei das Ferrovias, o projeto de estabilização dos preços dos combustíveis e o novo Marco Legal da Mobilidade Urbana. Propus legislações pioneiras voltadas à transição energética e à sustentabilidade, incluindo os projetos de regulação da energia offshore, do hidrogênio como fonte energética, da captura e armazenamento de carbono, do biogás em aterros sanitários e da economia circular do plástico. Defendi pautas sociais, como a prioridade vacinal para gestantes e lactantes, o direito ao reparo e o combate à obsolescência programada, e atuei na inclusão de obras estruturantes para o RN no PPA e na LDO, como a duplicação da BR-304 e BR-406.
Fui relator setorial do Orçamento Geral da União para Minas e Energia, presidi a comissão temporária da crise hidroenergética e relator da comissão de fiscalização da implementação do 5G.
Coordenei com responsabilidade a Frente Parlamentar de Recursos Naturais e Energia, a Frente em Defesa da Petrobras e o Grupo Parlamentar Brasil-Países Árabes, entre outras. Também atuei como vice-presidente da Frente Parlamentar Mista das Micro e Pequenas Empresas, responsável pela criação de programas essenciais como o PRONAMPE e o PERSE, garantindo apoio à base produtiva e à sobrevivência de setores estratégicos durante a pandemia.
No plano estadual, atuei com compromisso e lealdade à primeira gestão petista no Rio Grande do Norte, destinando mais da metade das minhas emendas à Governadora Fátima, ao mesmo tempo em que, junto a mais de 70 prefeitos e prefeitas, realizamos projetos estruturantes como as Areninhas Potiguares e as Escolas Solares, além de promover a distribuição equitativa de recursos para todos os municípios potiguares, inclusive os mais distantes, independentemente do matiz político-partidário.
Em 2022, mesmo contrariado pela decisão partidária que preteriu minha tentativa de reeleição, aceitei com disciplina a orientação do partido e atuei ativamente no processo eleitoral, na condição de suplente da chapa majoritária ao Senado, mantendo-me fiel ao projeto coletivo e ao campo democrático.
A missão de presidir a Petrobras, confiada diretamente pelo Presidente Lula, foi abraçada com afinco. Conduzi a companhia ao melhor resultado operacional e financeiro de sua história de 70 anos, sem vender refinarias, sem alienar ativos estratégicos, adotando uma política nacionalista para os preços dos combustíveis e para a distribuição de dividendos, e, ao mesmo tempo, mantendo a valorização da estatal e a confiança do mercado.
Minha saída, provocada por intrigas palacianas e desinformações deliberadamente plantadas, e marcada pela ausência de manifestação pública do partido à época, consolidou uma percepção de esvaziamento do espaço político que antes eu ocupava. A forma como se desenvolveram as conversas recentes sobre os planos políticos do PT no Rio Grande do Norte para 2026 reforçou minha percepção de que meu espaço de contribuição dentro do partido se encontrava reduzido — ainda que eu mantenha total respeito às decisões e compreenda que os diálogos políticos seguem em evolução.
Ainda assim, não carrego mágoas. Carrego gratidão e consciência tranquila. Sigo fiel aos ideais que me trouxeram à política: a defesa da democracia, da justiça social, do papel do Estado no desenvolvimento nacional, e de políticas públicas modernas, inclusivas e conectadas com a sociedade brasileira do presente e do futuro.
Continuarei no campo progressista, em uma legenda com tradição equivalente de luta por justiça social, dignidade e soberania nacional, com o objetivo de contribuir para a construção de uma esquerda moderna, transparente, popular e capaz de dialogar com as novas gerações e os desafios do nosso tempo.
Agradeço especialmente a quatro quadros do Partido dos Trabalhadores que se tornaram para mim mais que companheiros: tornaram-se amigos e referências pessoais e políticas para toda a vida — Fernando Haddad, Aloizio Mercadante, José Dirceu e Vossa Senhoria, Edinho Silva.
E deixo um registro emocionado e respeitoso à militância petista, especialmente à do Rio Grande do Norte, com destaque àquelas e àqueles que atuam nas pequenas cidades, nas áreas rurais e nos cantos esquecidos do país, onde a luta cotidiana pela dignidade é quase heroica. Essa militância é o que o PT tem de mais autêntico e valioso, e por ela minha admiração permanece intacta.
Não deixarei de me perfilar, sempre, ao lado das causas justas, das lutas populares, e de somar forças ao campo democrático toda vez que as ameaças forem maiores que as divergências internas. A pluralidade é riqueza, não ameaça.
Reitero meu respeito à história do Partido dos Trabalhadores e desejo êxito àqueles que seguem nele construindo um Brasil mais justo, desenvolvido, soberano e solidário. Sigo com espírito fraterno, aberto ao diálogo, e determinado a continuar servindo ao povo brasileiro com coragem, seriedade e visão estratégica.
Com apreço
Jean Paul Prates
